Irmã Fernanda!

 

IRMÃ FERNANDA_

Maria Fernanda Oliveira Ferreira, 90 anos, nascimento na década de 30 do século passado.

Nascida e criada em Tougunha até fazer a idade adulta, depois teve um chamamento do senhor que lhe mudou e moldou a sua vida para sempre.

Vivia na casa que era do Eng. Dias, onde já foi o café Rotunda, antes era a sua casa, mais tarde vendida à sua irmã Amélia e Cunhado José Ribeiro, que infelizmente já não estão entre nós.

A Irmã Fernanda, como sempre ficou conhecida em Touguinha, levou consigo mais duas jovens, para serem três a conta que Deus fez, para a congregação Irmãs Salesianas.

Era ela, a sua mana Rita e a Alice Silva, foram de Touguinha por volta do ano 1963, data em que a mana de quem vos escreve fez 21 anos, idade adulta na altura.

A Irmã Fernanda foi para Moçambique no ano de 1990 , formou um colégio de meninos da rua e depois os educava e lhe dava a escola primária. Eram às centenas, obra meritória que só pessoas de coração grande abraçam esta causa.

Foram anos e anos a dedicar a sua vida à causa publica e aos outros antes e depois da independência de Moçambique.

Continua com dados de Moçambique...por Irmã Maria Alice Silva, sua colega.

Zeca, aqui vai a informação da Ir. Fernanda. Mais ou menos pelo ano de 1970 destinada à  Missão  de Chiure em Cabo Delgado,  ali trabalhou com grupos de noivas que iam para ali preparar-se para o casamento. Não  tenho a certeza mas acho que cada grupo ficava na Missão  à  volta de seis meses. Aprendiam um pouco de tudo para saber tratar da casa, coser a roupa, cuidar dos filhos e também  tinham catequese para se casarem pela Igreja.

 Mas dois ou três  anos depois foi para a Namaacha para acompanhar as três  primeiras jovens que aspiravam a serem Irmãs  Salesianas das quais lá  está  uma. A Ir. Claudina. As outras duas acabaram por desistir. Nem chegou a ficar um ano neste trabalho pois pediram lhe para juntamente com outra Irmã ir tomar conta de um Lar Juvenil que era pertença  dos Franciscanos. Corria o ano 1974.

 Depois de um ano ou nem isso deixaram esse Lar e passaram para outro que pertencia à  diocese do Maputo. Era o Lar Santa Maria onde ficou administradora bastante tempo. Era um Lar para jovens trabalhadoras. Muitas além  de trabalharem estudavam à  noite. Ali residiam cerca de 100 jovens. Depois de saírem dali casavam-se, nasciam os filhos e vinham visitar a Ir. Fernanda. Chamavam lhe avó.

 Entretanto como devido a guerras chegavam a cidade muitas crianças sem família,  principalmente rapazes. Ela quando ia às  compras encontrava os na rua e eles depressa aprenderam onde ficava o Lar Santa Maria para ir lá  matar a fome. 

A Ir. Fernanda dava lhes de comer mas encentivava-os a trabalhar para ganhar dinheiro e poderem comprar sapatilhas  etc, etc... para isso arranjou lhes um balde e um pano para lavar os carros aos estangeiros. À  noite vinham guardar o balde e o dinheiro. Ela fazia de banco. Chegou a ter sete que andavam nisso. Guardam tudo o tinham num.contentor que estava no quintal do Lar. Depois começaram  a aumentar e invadiam o Lar a toda a hora. Então  a Ir. Fernanda começou  a pensar em arrajar uma casa para eles. E começamos a chamar lhes "Fernandinhos". 

Tínhamos  lá  a Ir. Petra, espanhola, que se propôs  ajudar a Ir. Fernanda a angariar dinheiro para construir uma casa para os " Fernandinhos". O CONSELHO EXECUTIVO cedeu-lhes um

terreno grande no vale do rio Infulene, onde foi construída a Casa que lá  está  muito bonita.

E a Maria Alice continua com alma a contar tudo que sabe

“A Ir. Fernanda no Lar Santa Maria era como uma mãe  para as jovens pensionistas. Passava os seus tempos a adaptar roupas que chegavam da Europa para esta e para aquela. E dizia: " Não  imaginas o prazer que sinto ao vê-las bem vestidas estão  sempre na moda".  Na zona da despensa havia um lugar fechado à  chave em que ela guardava o que podia angariar para os pobres que todos os dias chegavam a pedir ajuda. Eu sei disto porque quando lá  cheguei pela segunda vez fiquei nesse Lar de agosto até  janeiro a substituir a Ir. Odete que esta cá  em Portugal de férias. Nessa altura vi me um pouco atrapalhada quando ela me entregou todas as chaves para ser eu a fornecer a cozinha, etc, etc...  Ali, no Maputo, toda a.gente conhecia a Ir. Fernanda. Como ela podia passar requisições para comprar fosse o que fosse e, como sem requisição nao se podia comprar nada, muita gente recorria a ela. E ficou lá desde antes da Independência até passar para a Casa dos Fernandinhos no Infulene. Mais ou menos em 1990. Eu estava lá  quando foi a inauguração. Conheço  a casa muito bem.”

Agora depois de muitas voltas pelo mundo, África incluida, estão novamente as três amigas juntinhas na lar de Pinamanique em Cascais.

As irmãs Fernanda e Rita receberam várias visitas da sobrinha Neila e família em Lisboa.

Agora a sua saúde já não é a mesma de outros tempos! Mas a união faz a força e aquilo que Deus juntou a vida não mais separou.

Irmã Fernanda sentada na cadeira de rodas, Irmã Rita de pé.

Aqui fica o meu reconhecimento bem como de toda a aldeia de Touguinha, pelo seu trabalho em prol das causas humanitárias e religiosas.

Um agradecimento muito especial à minha mana Alice Silva, que com ela conviveu em Moçambique e cá continua.

(Continua com dados, fornecidos por Neila, sua sobrinha e nossa conterránea na nossa aldeia, numa crónica mais intimista e de família).

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